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terça-feira, 11 de outubro de 2011

História Oral: A Arte de Compartilhar Memórias

História  Oral: A Arte de Compartilhar Memórias

                                    “Alguém deve rever, escrever e assinar os autos do passado antes que o tempo passe tudo a raso”.Cora Coralina

As questões relacionadas ao envelhecimento humano e a qualidade de vida figuram entre os temas mais recorrentes na atualidade. Observa-se que as pessoas na faixa etária denominada Terceira Idade estão cada vez mais participativas, críticas, sedentas por atividades físicas, culturais e de lazer. E, percebe-se ainda que, cada vez mais, exigem seus direitos assegurados na Constituição Federal de 1988 e na Lei 10.741, de 1º de Outubro de 2003, o Estatuto do Idoso, enfim querem ser respeitados como cidadãos experientes e ativos na comunidade em que vivem.
Sem sombra de dúvidas, um novo perfil de idosos está se delineando na sociedade, desconsiderando, inclusive, a classe social, cultura ou formação pessoal. São novos personagens com desejos e objetivos definidos, que diferem daqueles de algum tempo atrás. Para atender aos anseios e necessidades dessa população emergente, o Centro de Extensão em Atenção à Terceira Idade–CETRES /UCPEL vem, há duas décadas, oferecendo diversas atividades priorizando a convivência, o desenvolvimento biopsicossocial de seus usuários, bem como, orientações para o envelhecimento ativo e saudável. Atualmente conta com vinte e seis oficinas, dentre elas: cinema, coral, criatividade, dança, espanhol, fisioterapia, informática, memória, pintura, tear, tricô e  turismo.
E, como objetivo de valorizar a bagagem cultural dos idosos e oferecer-lhes atividades voltadas ao resgate das memórias/experiências de vida, articulou-se, no inicio deste ano, a oficina de História Oral: A Arte de Compartilhar Memórias  porque se considera o movimento de recuperação da memória de extrema importância, pois é do vínculo com o passado que se extrai a força para a formação de identidade, especialmente quando se fala da memória-experiência, da memória do vivido nos diferentes tempos da vida do indivíduo (BOSI, 2003).
Nesse sentido, é justamente nas narrativas do cotidiano, consideradas senso comum, que se aprende acerca da cultura e da memória. Entre os informantes privilegiados para se resgatar a memória destacam-se os idosos, construtores da cultura e legítimos depositários de experiências e conhecimentos que merecem ser valorizados e compartilhados.
No entanto, numa sociedade em que a memória dos mais velhos não tem valor, torna-se difícil comunica-la ou resgatar a história,e,consequentemente, cresce o fosso entre as gerações: vivem separadas, cada qual reunida em torno de atividades que lhe são específicas. Essa cisão entre gerações, confinamento cultural,limita o vínculo entre   a experiência vivida por jovens e por idosos e impede que cada um possa ser alimentado pela experiência do outro, além de bloquear a interação e o compartilhamento de lembranças e conhecimentos
Por essa razão, as atividades realizadas na oficina para o recolhimento de lembranças são basicamente por meio de depoimentos orais. Os estímulos utilizados para evocar memórias são vários: perguntas diretas, objetos pessoais, músicas, fotos, cartões postais, gravuras, cartas, poesias, e muitos outros elementos desencadeadores de lembranças, por isso os temas para as sessões são variados: identidade, infância (vestuário, educação, família, brincadeiras, alimentação, saúde), vida adulta (trabalho, carreira profissional, migração), maturidade (experiências vividas) ou outros que surjam das necessidades ou desejos deles.
Os encontros acontecem nas tardes de terças-feiras das 14:30 h às 16:30 h quando se reúnem dez(dez) mulheres com idades que variam de 51 à 85 anos, sob a coordenação da Pedagoga Mara Rita Dutra Giacomelli (Voluntária do CETRES) e como monitora a professora Maria Lúcia Silveira (Usuária do CETRES). O trabalho também conta com o apoio da acadêmica Roselaine Quevedo Jurgina (Pedagogia /UCPEL) e, com a supervisão da Psicóloga Sulanita Caldeira de Arruda, coordenadora do CETRES. O trabalho de reminiscências realizado no decorrer do ano será compartilhado através de uma Exposição com data a ser confirmada.
Com base nas atividades já realizadas na oficina de História Oral: a Arte de Compartilhar Memórias, percebe-se que a prática de recordar pode contribuir para fortalecer ou restituir o senso de identidade e a autoestima. A capacidade de manter o passado vivido, principalmente na presença de ouvintes solidários, pode ser um dos mecanismos que as pessoas idosas encontram de manter a sua integridade psicológica.
Acredita-se que a memória constitui-se numa forma de preservação e retenção do tempo, salvando-o do esquecimento e da perda. Portanto, história e memória, por meio de uma inter-relação dinâmica, são suportes das identidades individuais e coletivas. É impossível uma sociedade sem que se acione a memória, sem que ela fertilize cada possibilidade de realização no presente e no futuro.


 Mara Rita Dutra Giacomelli
 Pedagoga
 Especialista em Educação Especial e Psicopedagogia
 Pós-Graduanda em Saúde do Idoso e Gerontologia
 Mestra em Ciências da Educação
  Coordenadora  da Oficina de História Oral
   CETRES - UCPEL

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